A Certeza Sensível

Na Fenomenologia do Espírito, uma das obras filosóficas mais importantes de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, temos a descrição das características gerais das figuras da consciência e suas diferenças em relação aos tempos históricos e às culturas.

A primeira figura da consciência, aquela que terá atenção nesse artigo, é a certeza sensível. Ela se apresenta como um saber imediato na construção do conhecimento e que irá transformar-se a si mesma.

Não se trata de uma conceituação estranha, mas limitada, pois está em construção, na qual o sujeito (puro este) ainda não se tornou objeto da consciência, sendo o objeto (puro isto) algo independente a ser experenciado, tido de início como essencial, até que seja examinado. Do ponto de vista da consciência, toda e qualquer certeza sensível se relaciona com outra.

A Filosofia é a ciência em que a verdade é fundamentada em pensamentos universais. Seu resultado, para ser compreendido, não pode ser tomado como imediato, pois possui uma história.

Há uma essência da verdade em cada estágio do saber, tornando-se necessário passar de um universal abstrato para um particular completo, já que teses abstratas e imediatas não resolvem problemas. É preciso experenciá-las, conhecê-las.

O definitivo na experiência sensível é o ‘aqui’ e o ‘agora’. Ela acredita poder se encontrar em qualquer espaço ou momento no tempo como verdade. A certeza sensível, em sua forma mais primitiva, é definida por conceitos abstratos para que depois chegue à consciência de si mesma (ou autoconsciência). Ou seja, quando reflito, transformo minha consciência em objeto de si mesma.

Nesse processo, a certeza sensível, que se esgota em si mesma, constitui uma forma objetiva de conhecimento (saber objetivo). O “aqui” e o “agora” são categorias universais desse conhecimento.

A relação do sujeito com o objeto varia em cada cultura, a qual altera o contexto que se dá tal relação. Assim, se o objeto é uma representação, ele depende do sujeito, que é mais importante que o objeto. Eis a “diferença capital” a que Hegel se refere, pois é uma relação mediada, onde o sujeito passa a ser o essencial. Quando o objeto é determinado, acaba por relacionar-se com outro objeto. Quando o sujeito recorre a uma representação, é uma universalidade que extrapola a certeza sensível.

O saber, para a consciência, passa a ser diferente do objeto. Quando o sujeito se aproxima do objeto, também se aproxima de si mesmo, reconhecendo na certeza sensível a mediação do ser outro.

A certeza sensível não pode ir além dela mesma. Deve purificar-se para superar suas limitações.

Toda e qualquer forma de conhecimento visa o saber, que, no início, tem a aparência de absoluto, para depois descobrir-se incompleto.

Não há consciência que não sofra!

E não cabe ao filósofo interferir, a não ser como mero observador, afastando do seu apreender o conceituar, respeitando o movimento realizado pela própria certeza sensível, não permitindo que seu conhecimento se oponha a ela.

 

Referência bibliográfica

G.W.F. HEGEL. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1992.

Imagem: Quadro de René Magritte, “A Traição das Imagens” (1929).