Aristóteles inaugurou um novo modo de fazer ciência, através de um modelo axiomático dedutivo, em que categoriza os pensamentos através de argumentos justificáveis, as premissas, para atingir uma conclusão necessária (ou não) de raciocínio formal, através de inferências que conectem as ideias apresentadas.
A lógica aristotélica é, portanto, uma ferramenta, em seu sentido metodológico, que conduz ao conhecimento em diversas áreas da ciência, sejam elas Filosofia, Matemática, Física, Biologia, entre outras, recorrendo à argumentação lógica para que uma teoria seja verdadeira, trazendo a coerência como condição para a verdade ou, pelo menos, o mais próximo dela.
Contrário aos propósitos de Aristóteles, Descartes utilizou a lógica para fazer ontologia, referindo-se às ideias com “clareza e distinção”, nas Meditações Metafisicas. Por meio de explicações de conceitos que conduziriam gradativamente ao entendimento do ser, extrapolou, portanto, o papel da lógica como ferramenta da Metafísica para mera ordenação do pensamento. Em sua obra, Regras para a direção do espírito, foi mais enfático na crítica à lógica aristotélica como condutora de saber:
“(…) todas as coisas podem dispor-se sob a forma de séries, não enquanto as referimos a qualquer gênero de ser, como fazem os filósofos que as repartiram nas suas categorias, mas enquanto se podem conhecer umas a partir das outras, de tal modo que, cada vez que se apresenta uma dificuldade, possamos imediatamente dar-nos conta se será útil resolver outras previamente, e quais, e em que ordem.” (DESCARTES, Regras, Reg. 6, X, p. 381)
As “categorias”, a que se refere Descartes, representam a formação de um conjunto de princípios demonstráveis (introdução ao sistema lógico presente no Órganon, de Aristóteles), que dará a precisão necessária aos termos dentro de uma teoria ordenadora do discurso que dê conta de seus objetos.
Para alcançar a certeza científica na construção de um conjunto de conhecimentos seguros, torna-se necessário, segundo Aristóteles, possuir regras de pensamento que permitam demonstrações irrefutáveis. Assim, o início da obra é uma categorização sobre o sentido das palavras, afim de evitar equívocos na análise da linguagem corrente. As categorias são divididas em substância, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, posição, condição, ação e paixão.
Em sua visão antiplatônica, Aristóteles não distingue a matéria (hylé) da forma (eidos) – material de imaterial, para ele, ambas imanentes, ou seja, inerentes ao ser -, pois tudo aquilo que for passível de ser predicado, não pode ser predicado de outro.
Para fundamentar a ciência no mundo físico, seria necessário substituir a concepção unívoca de ser, concebido de modo único e absoluto, pela concepção analógica, em que o ser seria dotado desses diferentes sentidos categorizados. Com efeito, Aristóteles dá suprema importância à substância (synolon), tratando-a como primária e as outras categorias como secundárias. As últimas existem em algum sujeito e dele dependem. A primeira não pode ser dita de um sujeito e nem em um sujeito, por ser o próprio sujeito, aquele de que se fala. E, caso não existissem substâncias primárias, seria impossível que existissem quaisquer outras coisas.
A definição de substância diferencia a individuação da universalidade, estabelecendo a distinção entre cinco tipos possíveis de atributos: o gênero, a espécie, a diferença, o próprio e o acidente.
O gênero refere-se à classe mais ampla que o sujeito pode pertencer (“O homem é um animal”).
A espécie constitui a síntese do gênero e da diferença (“O homem é um animal racional”). Ela está relacionada ao gênero como o sujeito está relacionado ao predicado.
Predicamos o gênero da espécie, mas nunca, podemos predicar, inversamente, a espécie do gênero. Assim, também, no que diz respeito às substâncias primeiras, nenhuma é mais substância do que as outras, pois este ou aquele homem, por exemplo, não poderia ser mais verdadeiramente substância do que, digamos, este ou aquele boi.
Assim sendo, toda substância parece determinada, o que é indiscutivelmente verdadeiro no que tange às substâncias primárias. O que cada um denota é uma unidade.
Quanto às substâncias secundárias, talvez a linguagem o faça parecer, como quando dizemos “animal”, “homem”, mas realmente não se trata disso, pois, ao contrário, o significado destas palavras é uma qualidade. A substância não é uma e singular como a primária.
O próprio e o acidente são atributos que não fazem parte da essência do sujeito, pois não dizem o que ele é. Entretanto, o próprio guarda uma dependência necessária em relação àquela essência (“A soma dos ângulos internos de um triângulo equivale a 180º”), enquanto o acidente pode ou não pertencer ao sujeito, ligando-se a ele de modo contingente e podendo ser afirmado de outros tipos de sujeitos (“Este homem é branco”).
Referências bibliográficas
ARISTÓTELES. Órganon. Tradução de Edson Bini. Bauru: Edipro, 2005.
DESCARTES, R. Regras para a direção do espírito. Tradução João Gama. Lisboa: Edições 70, 1985.